Panorama histórico do transtorno do estresse pós-traumático em conflitos não guerra

Abstract

O presente trabalho versa sobre o transtorno mental conhecido como Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e suas características no contexto militar. O TEPT será abordado em suas peculiaridades quando manifesto em militares envolvidos em conflitos do tipo não-guerra (e.g. busca e resgate, Imposição da Paz e Manutenção da Paz) e será feito um panorama histórico do transtorno, isto é, serão recapitulados os passos dados desde sua descoberta até a atualidade, bem como descritas as suas especificidades no contexto de operações militares não-guerra. Com tal histórico à luz da análise objetiva, que se dê mais um passo em direção ao progresso da descrição, compreensão, diagnóstico e tratamento do TEPT em militares, para alívio do sofrimento dos afetados e redução de ônuses para as Forças Armadas. A pesquisa bibliográfica a partir de 22 artigos levantados online (via Google Scholar, Medline, Pubmed e SciELO) e 3 livros com informação importante sobre o tema. Desenvolvimento: O TEPT já foi estudado por vários expoentes das ciências comportamentais (e.g. Pinel, Charcot, Freud), mas só foi conceitualzado da maneira atual a partir dos estudos de Kardiner; já teve diversos nomes antes do atual (neurastenia, histeria, neurose de guerra, shell shock, fadiga de combate, entre outros). Diversas dúvidas e controvérsias acerca da natureza do transtorno, mecanismos fisiopatológicos, papel de fatores predisponentes individuais e tratamento intrigaram a comunidade médica, mas foram (e têm sido) gradualmente encaminhadas rumo a soluções, principalmente da Primeira Guerra Mundial em diante. Todavia, ainda não se tem total compreensão acerca do transtorno, que se mostrou não ser uma exclusividade de guerras, e nem mesmo de combate; ele ocorre de maneira também notória em militares em missões não-guerra (e.g. manutenção da paz). Seu impacto individual é profundo, atingindo não apenas a psiquê, mas também funções cerebrais específicas (minando a qualidade de vida) e cascatas hormonais (de forma a aumentar o risco cardiovascular). O TEPT passou a ser estudado em operações não-guerra somente recentemente, em contraste com o contexto de guerra tradicional. Entretanto, missões não-guerra constituem um novo paradigma de operações militares perigosas e são fator de risco para o desenvolvimento do transtorno, da mesma forma que as missões de combate convencional e, como tais, merecem atenção científica. Pesquisas ulteriores podem levar a progressos na descrição do transtorno.____________________________________________________________ABSTRACT The present work details the mental disorder known as Post-Traumatic Stress Disorder (PTSD) and its characteristics in the military context. It will be approached in its particularities when manifest in military personnel involved in non-war conflicts (e.g. search and rescue, peace enforcement and peacekeeping) and a historical overview of the disorder will be outlined. The steps taken from its discovery to current times will be retraced and its specific features in the context of non-war military operations will be described. With the disorder’s timeline under objective scrutiny, the author aims to usher a step towards progress in its description, comprehension, diagnosis and treatment in military personnel, to relieve suffering and to minimize resource-related setbacks for the Armed Forces. Bibliographic research from 22 articles found online (via Google Scholar, Medline, Pubmed and SciELO) and 3 books containing important information on the subject. PTSD has been studied by many scholars of the behavioral sciences (e.g. Pinel, Charcot, Freud), but it was only conceptualized as it is today in Kardiner’s research; it had many names before its current one (e.g. neurasthenia, hysteria, war neurosis, shell shock, battle fatigue, etc.). Many questions and controversies about its nature, pathophysiological mechanisms, the role of individual predisposing factors and treatment intrigued the medical community, but were (and are still being) taken toward solutions, especially from World War I on. However, the disorder is still not fully understood; it has proven not to occur only in wars (or combat), being also notoriously prevalent in non-war operations (such as peacekeeping). Its individual impact is significant, affecting not only the psyche, but also specific brain funcions (impairing quality of life) and hormone chains (increasing cardiovascular risk). Conclusion: PTSD has only recently been studied in non-war operations, in contrast with more traditional war contexts. However, non-war missions are a new paradigm on military activity and are a risk factor for the development of PTSD in the same way as conventional combat operations, and, as such, deserve scientific attention. Ulterior research may lead to advancements in the disorder’s description.