Sistema de Munições Remotamente Pilotadas no conflito entre Rússia e Ucrânia: possibilidades e limitações

Abstract

O Sistema de Munições Remotamente Pilotadas surge neste século como uma tecnologia disruptiva que tem proporcionado vantagens táticas e operacionais aos países detentores. Este equipamento combina capacidades de um drone e de um míssil, a um custo inferior, permitindo seu emprego contra infraestruturas estratégicas e tropas terrestres, causando severos danos econômicos, militares e psicossociais ao inimigo. Em função da sua capacidade de vagar sobre o alvo e detonar-se ao atingilo, o SMRP recebeu outras nomenclaturas tais como: munição vagante, drone kamikaze e drone suicida. Muitos pesquisadores estão acompanhando o uso deste artefato bélico por atores estatais e não estatais em diversos conflitos, buscando investigar suas possibilidades e seu impacto na condução do combate e no planejamento estratégico das operações militares. Neste diapasão, este trabalho utilizará o conflito armado entre Rússia e Ucrânia, iniciado em fevereiro de 2022, como delimitação espacial e temporal para estudar o problema proposto, haja visto que ambos os Estados têm empregado intensamente diferentes modelos de SMRP autóctones ou fornecidos por países aliados. Entre todos os conflitos que o SMRP já foi empregado, a guerra na Ucrânia está sendo considerada por muitos especialistas como a primeira guerra convencional desde o final do período de Guerra Fria a empregar extensivamente munição vagante de curto e longo alcance, no combate aproximado ou de retaguarda. Este cenário tem sido utilizado para examinar e analisar diferentes perspectivas, tais como: possibilidades e limitações dos diferentes SMRP comercializados, vantagens em relação a outros materiais com finalidade semelhante, implicações na doutrina militar e regulação do emprego no teatro operacional. Desta forma, o problema proposto para este trabalho foi assim sintetizado: Como o conhecimento das possibilidades e limitações dos SMRP empregados no conflito armado entre Rússia e Ucrânia, no período entre 2022 e 2024, podem contribuir para o processo de obtenção deste SMEM pelo Exército Brasileiro? Para tanto, foi conduzida uma Revisão Sistemática em um Estudo de Caso, utilizando na pesquisa palavras-chave associadas a SMRP aplicados no conflito estudado que conduzissem aos nomes dos modelos empregados. Na análise e discussão dos resultados, as possibilidades e limitações levantadas foram sintetizadas e comparadas com os requisitos elaborados pelo Exército Brasileiro, sendo apresentadas oportunidades de melhoria no processo de obtenção de SMRP iniciado pela Força Terrestre, além de identificar que o Brasil possui mais de dez empresas fabricantes de SARP com potencial para integrar subsistemas que entreguem a estes vetores aéreos não tripulados a capacidade de realizarem ataques remotos precisos. Dessa maneira, os resultados deste trabalho reportam dados que podem ser utilizados como requisitos operacionais para um melhor direcionamento da Experimentação Doutrinária sobre SMRP conduzida pelo Comando de Operações Terrestres e apresentar empresas que possam cooperar com o Departamento de Ciência e Tecnologia no desenvolvimento de uma munição remotamente pilotada brasileira. ___________________________________________________________________________________________ ABSTRACT The Remotely Piloted Munition System (RPMS) has emerged in this century as a disruptive technology that has provided tactical and operational advantages to the countries that possess it. This equipment combines the capabilities of a drone and a missile at a lower cost, allowing its use against strategic infrastructures and ground troops, causing severe economic, military, and psychosocial damage to the enemy. Due to its ability to loiter over the target and detonate upon impact, the RPMS has received various names such as: loitering munition, kamikaze drone, and suicide drone. Many researchers are monitoring the use of this weaponry by both state and non-state actors in various conflicts, seeking to investigate its possibilities and impact on combat conduct and strategic military planning. In this context, this study will use the armed conflict between Russia and Ukraine, which began in February 2022, as a space and time limitation to examine the proposed issue, given that both states have intensely employed different models of indigenous or ally-supplied RPMS. Among all the conflicts where RPMS have been used, the war in Ukraine is considered by many experts as the first conventional war since the end of the Cold War to extensively employ both short- and long-range loitering munitions in close combat or rear operations. This scenario has been used to examine and analyze various perspectives, such as: the possibilities and limitations of different commercial RPMS models, advantages over other materials with similar purposes, implications for military doctrine, and regulation of their use in the operational theater. Thus, the problem proposed for this study was synthesized as follows: How can we understand the possibilities and limitations of RPMS used in the armed conflict between Russia and Ukraine between 2022 and 2024 contribute to the process of acquiring this technology by the Brazilian Army? To address this, a Systematic Review in a Case Study was conducted, utilizing keywords associated with RPMS applied in the studied conflict to identify the models employed. In analyzing and discussing the results, the identified possibilities and limitations were synthesized and compared with the requirements established by the Brazilian Army, presenting opportunities for improving the RPMS acquisition process initiated by the Land Force. Additionally, it was found that Brazil has more than ten companies manufacturing loitering munitions with the potential to integrate subsystems that provide these unmanned aerial vectors with the capability for precise remote attacks. Therefore, the results of this work provide data that can be used as operational requirements for better guiding the Doctrinal Experimentation on RPMS conducted by the Land Operations Command and in presenting companies that could cooperate with the Department of Science and Technology in the development of a Brazilian remotely piloted munition.